Meu último domingo no Rio, este ano. Fui à praia da mesma forma como cheguei aqui há quase 6 anos: sozinha. E como tem sido durante todo esse tempo nas batalhas diárias e na guerra sem fim do “salve-se quem puder”, tentando resistir às horas que passam rápidas quando se tem carinho, e às que passam lentas quando se tem ausência, silêncio ou dor. Nunca deixarei de dar crédito àqueles que passaram e os que ainda estão compartilhando tanta coisa, conquistas, alegrias, tristezas, sorrisos e abraços. Muitos, a quem devo agradecer imensamente por tornarem meus dias cariocas um pouco mais leves e suportáveis. E agradáveis.
Mas fiz do meu domingo uma ode à minha solidão, palavra que assusta tanta gente, mas que sabendo tratá-la a pão-de-ló (nossa, que expressão mais antiga!!) pode ser usada a nosso favor. E assim, fui para o mar, que tanto amor transborda em mim, com minhas leituras – as palavras, eternas companheiras – para o meio de tanta gente que não sabe meu nome, não se interessa pela minha vida e mesmo assim, divide o mesmo sol, o mesmo calor e muitos, a mesma solidão. E foi entre letras e mergulhos que agradeci pelas conquistas, aceitei as perdas e lancei ao horizonte encantadoramente lindo os desejos de bem e luz para os próximos dias. Foi entre as conversas e os gritos da praia que fiquei num silêncio profundo, fitando as bolinhas de energia que se agitavam no azul do céu, procurando escutar somente aquilo que me era de fato, necessário.
Por vezes tentava me levantar e seguir andando, mas não havia espaço. Também tentei juntar as coisas e ir embora. Inútil. O dia era de uma beleza que seria inaceitável não ver aquele por de sol. E até que se despedisse a última luz do dia, até que o universo pingasse em mim a última gota de claridade e leveza, não poderia partir. E quando o fiz, foi novamente sozinha, com um presente nas mãos – “já que você lê tanto, tome este livro. Presente!”. Novamente sozinha, até chegar no casulo onde tenho visto minha vida desabrochar, quase fora do meu controle, onde tem surgido uma mulher que às vezes não reconheço e a quem de vez em quando expulso, mas que tem conseguido cada dia mais espaço dentro de mim. E debaixo do chuveiro me despeço do último domingo aqui, da última noite aqui, do último café. Amanhã, não haverá a solidão, nem o silêncio, nem as ausências. Tristezas sim, essas não se desgrudam das solas dos meus sapatos e me acompanham como chiclete grudado no pé. Mas vou pisando torto, desviando-me delas, sendo feliz assim mesmo, “apesar de”. E dormirei amanhã com os meus, os que são eternamente meus, mesmo quando não estão.