sábado, 31 de julho de 2010

Desencontros


- Eu estava lhe esperando.
- Eu não falei que viria. Falei?
- Ah!! Você e suas perguntas....
- Mas esperou por que?
- Não deveria?
- Eu não disse que viria. Não precisava.
- Sim, mas eu esperei porque eu quis. Só. Eu que quis. Você viria de todo jeito.
- É.
-Então pronto. Já posso ir.
- Mas já?
- Já. Você já chegou. Posso ir agora.
- Tá...
- Até.
- Quando?
- Sei não. Nem dá pra saber.
- Verdade.
- E você, vai pra onde?
- Não vou. Fico aqui. Esperando.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

29

Hoje é dia vinte e nove. Daqui um mês, no dia 29 de agosto, acordarei com 29 anos vividos. 29 anos de muitas experiências, ainda poucas diante de todas que ainda virão, mas o suficiente para me fazer entender algumas coisas e sofrer com outras... é o ciclo. Em pleno retorno de Saturno, sinto que agora é, de fato, a hora de ser dona da própria vida, escritora da minha história; mais do que nunca tenho levado as rédeas nas minhas mãos, dominando este cavalo alado que teima em correr pelos campos como se a liberdade fosse tudo que possui. Vida de adulto, como digo aos meus amigos. Dói um pouquinho, mas é muito bom!

Como não poderia deixar de ser, mais música, uma que eu adoro e fala um pouco desse momentos vintenovesco. E Legião, para matar a saudade.


Para quem quiser saber mais sobre o famoso "Retorno de Saturno": http://www.personare.com.br/revista/identidade/materia/138/amadurecendo-no-retorno-de-saturno

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sem perder a delicadeza

Não é de hoje. Acredito até que sempre foi assim. Mas não entendo e não aceito certas formas como se tratam as pessoas. Muito me admira alguns modos, algumas palavras, olhares e gestos. Com ou sem motivo, as pessoas se destratam. Diria que isso é feio, mas é pior que isso. É simplesmente desnecessário. Já havia pensado sobre isso, já havia me indignado muitas vezes (pra falar a verdade, todos os dias vejo maus exemplos); mas a letra me veio com uma música – sim, sempre a música na minha vida, ainda bem! – “coloque um pouco de delicadeza no que escrever e onde quer que me esqueças...”. uma melodia delicada. E pronto!, lá estava minha mente inquieta matutando sobre ser ou não delicado. E a primeira coisa: é uma palavra linda – delicadeza. Rima com tantas outras de beleza igual, de grandeza semelhante e de riqueza de sentidos. Segunda coisa: sinto muita falta. E só me dei conta do quanto é bom ter esse substantivo por perto quando me vi numa cidade “sangue quente” onde a alegria, descontração e receptividade contrastam cruelmente com a falta de tato e de cuidado com o outro. Sim, falta cuidado, no maior sentido da palavra. Cuidar, tratar, no mínimo, com carinho, praticando aquela máxima de não fazer a ninguém o que não quer que façam contigo. Definitivamente, funciona pouco, pelo que vejo. E forma-se uma bola de neve, uma corrente que se alastra por pura vingança e pirraça no pior estilo “se latir, eu mordo”. E quantas mordidas são dadas sem ao menos uma chance de se dizer bom dia...

Bom, não era bem isso que ia dizer quando comecei a deitar aqui essas letrinhas inquietas. Queria fazer algo bonito, que exaltasse os seres delicados e mostrasse um pouco de efeito positivo sobre as almas saudosas de um carinho gratuito. Isso! Delicadeza me vem como um carinho gratuito, o bom sentimento que a gente oferece a quem quer que seja, sem se preocupar se será tratado com o mesmo toque de flor. É simplesmente dar o melhor, ou pelo menos, um lado bom de si. É deixar escorrer nossos mais sinceros votos de que aquele encontro – qualquer que seja – possa deixar uma boa lembrança, um olhar verdadeiro e a certeza de que estivemos na presença de alguém que nos fez bem. Delicadeza é saber lidar com as fraquezas e dificuldades alheias com a mesma paciência com que lidamos com as nossas. É derramar um sorriso de graça, assim, dado de presente para aquele que a vida coloca em nossa direção.

Mas o que realmente tentava dizer era que é cada vez mais difícil manter-se delicado. Tudo nos leva ao contrário. Gritos, insultos, irritação, abandono, desprezo, raiva, pressa, inveja, etc, etc, etc... fazem com que percamos o tom e fiquemos mesmo mais duros e insensíveis, com tudo. Cheguei onde queria: “é preciso estar atento e forte”, para sobreviver à dureza da vida cotidiana, do mundo adulto violento e insano, sem perder a delicadeza que carregamos na essência do ser. É trabalho diário, mas que com a prática torna-se fluido e natural. E com resultados tão lindos quanto os sorrisos e abraços que recebemos de volta. Ser delicado. Apesar de tudo, apesar de todos. Não quer dizer fraqueza; ser delicado é outra coisa. Ao contrário, fortalece. Então fica a dica: viver, lutar, sofrer... sempre com delicadeza.

Tudo bem, às vezes eu assumo que sou irmã coruja e babo nos meus "irmaozinhos". Ainda mais agora, que o mais novo se formou e estava lindo! Então, já que o negão merece, aqui vai minha pequena homenagem, meus mais sinceros parabéns e minha declaração de amor ao Jardel, essa coisinha feia aí. Desejo todo sucesso do mundo, muitas outras conquistas, muita luz e sorrisos! Garoto, como eu te amo!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A quem interessar possa


Saí há alguns minutos, deixando as ruas molhadas e o vento frio, e agora estou num infinito azul de estalar os olhos e aquietar qualquer coração. Está um dia lindo aqui em cima. Vejo um chão de nuvens ali embaixo, bem perto, tão denso que eu seria capaz de me jogar sobre elas como quem se joga num colchão macio. Seria capaz de correr, pulando entre as imensas bolas de algodão, fazendo rolar todas as alegrias dos últimos dias, e as que virão. Olhando daqui de cima, com esse feixe de sol apontando para minha garganta, posso ver tanto das cidades que tive a impressão de ver um pedaço de mim andando em algum lugar. E logo pensei em você. Pensei porque estar assim é quase tão bom quanto estar no seu abraço. E como estou sem ele, o que alimenta é essa imensidão e uma vontade enorme de saber se você resistirá à chuva, à ventania e ao silêncio. Ah, precisava dizer que o azul desviou o medo e pensar em cair virou brincadeira de criança...quanta leveza.... Outra coisa - isso me lembra o mar, aquele de sempre, o mar do início, o mar do meu nome... palavras....
Não era pra ser nada demais. Era só pra dizer que estou com uma pequena saudade do seu abraço. E do seu sorriso.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Postcards from Italy


A música é linda. A banda, uma das minha últimas paixões, dessas que tomam tempo e fôlego, que encantam e deixam mais vontade. Acho que não é preciso falar muito sobre o poder dos sons sobre a alma, é algo já aceito, comprovado e aprovado. E esses rapazes ( e sua musicalidade incrível!) conseguem me encantar a cada dia que ouço, bem assim como esses romances em que se ama cada dia mais um pouquinho... eles tocam em algum lugar antes do amor e da dor, antes de qualquer tristeza ou alegria, algum lugar entre o plexo solar e a boca do estômago. Não sei direito. Acho fabuloso.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Coisas bonitas

Ainda cedo, o azul do céu escorrendo pela minha cama, lembrando um dia de alegrias pequenas, sorrisos sinceros, ao lado do par de olhos que tanto brilhavam na despedida da lua, um som de saxofone enrolando meus tímpanos em veludo, o corpo adormece. Amolece lá dentro aquele instante de dor e saudade que queria ficar mais um dia, mais umas horas ou para sempre. Derrete-se aquela fria calmaria de solidão dos instantes calados na porta do peito, como se nenhuma sombra se atrevesse mais a insultar meu sono.

Adormeço. Em sonho – experiência real, acredito – uma dança ou algo assim, uma valsa de leve, um abraço de lado que traz o que é quente, o que alimenta, apavora e encanta. Tudo que cabia no abraço agora já não cabe mais. Ainda cedo. Cedo para braços de paz, para beijos de bom dia, para o chá das cinco, para o fim do filme, para ficar sem fazer nada, orelha jogada na barriga alheia, som de tv.

Amanheço. E ao sentir o tilintar do dia nos cílios longos aparece um fantasma, a sombra que se desmancha com o tempo, mas que existe (temo que nunca deixe de existir). São duas sombras, na verdade, e se desmancham em uma só. Música – vício eterno – café quente, espelho, roupa cheirando a esperança, novidade, gosto bom.

Entardeço. Correm as horas pela minha pele e enxáguam de cansaço o olhar delirante. Bom, este dia, como outro qualquer, sem especialidades, sem surpresa, sem soluços, quase – quase – sem saudade. Impossibilidade, reconheço. Aprendo a viver com ela a cada dia, a ausência. Fazer dela boa companhia, aquela que suporta os gritos desafinados no chuveiro, as folhas rasgadas com poesias tortas e as mensagens madrigais da madrugada.

Anoiteço. Caio junto com as estrelas nessa imensidão de negrume e cheiro de flor. Tentar ignorar as buzinas e sirenes ainda é um esforço presente. Vem-me assim, com frases bonitas e há-braços de todos os tamanhos e intensidades. Longos, assim como são longos os fios molhados que enrolo no tecido, enxugando a face desbotada e as pernas com alguma dor. Fios de lua agora, escorrendo pela cama, que me espera. Boa, esta noite. Leve por causa das canções que descobri sem querer, por causa da voz do garoto que canta como quem ama. E ela me diz sobre verdades universais, desejos de amor e erros nos olhares. Todos os dias acontecem, acontece amor todos os dias. Escondido nas pequenas coisas, essas que meus olhos nem conseguem ver sem lentes corretivas ou esse par de óculos que trazem dor de cabeça. Letra de música, “descreva pra mim sua latitude que eu tento te achar no mapa mundi”. Lembra as distâncias. E a delicadeza do momento se faz maior que tudo, maior que eu, maior que tudo que pude ser, enfim. Com o tempo, esqueço.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Anoitecendo

Ver estes olhos tão cedo, tão cheios de olheiras e tristezas, faz pensar que já é um pouco tarde para certas felicidades que ainda não tive. Também faz lembrar da voz dizendo que era preciso bater à porta e deixar aquela criança entrar de novo, ela que está ali quietinha do lado de fora, só esperando uma brecha ou uma mão que a faça escorregar para dentro, trazendo luz e alegrias, com flores e brincadeiras.

- Dar menos importância ao correr do tempo, este que zomba de nossas caras cansadas de sono e solidão... – é o que escapa dos pensamentos e cai junto com a água fria da torneira, indo pelo ralo da pia sem deixar sequer um rastro, uma esperança de que algo irá se concretizar.

Sim, estamos envelhecendo. Mas ainda é começo de tarde, a noite vai demorar a chegar e temos muitas horas para viver enquanto as estrelas não aparecem. Só que o medo da escuridão é tanta que nos vemos antecipando o acender de algumas luzes, como se isso pudesse fazer a noite mais clara, como se fôssemos capazes de nos manter iluminados quando o sol se cansar do azul do céu. - Inútil. Completamente inútil - ela diz com aquela voz suave de quem sabe anoitecer. Melhor é esquecer os relógios, aprender a contar o tempo olhando para o alto e ouvindo o sábio cantar dos passarinhos. Melhor correr na chuva e brincar de pique-pega sem pensar nos ternos desbotados que circulam pela cidade escondendo tesouros. Melhor ainda é esquecer os números que gravam nos nossos papéis e viver sem essa matemática que cansa a alma e julga nossos corações. E ainda melhor seria, esquecer que anoitece. Desfrutar o orvalho da manhã, o dançar do vento ao entardecer, o silêncio do pôr-do-sol... Dar menos importância ao tempo, este que zomba de nossas caras cansadas de sono e solidão....