segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Aqui


De vez em quando parece que não dá
De vez em quando parece que vai
E não vai
Aí você esquece, entrega e segue
E tudo acontece.



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Mandando notícias




Tem gente que pergunta, tem gente que quer saber de tudo, tem gente que nem sabe ainda. E pra quem espera, as notícias são frescas e frias. A névoa começa a chegar pela manhã. Às 7 ainda é noite e eu me viro de lado pra continuar sonhando. Às 8 e meia um vizinho começa a gritar de dor. Por tantos minutos fico a olhar o teto baixo de madeira, ouvindo os gemidos dolorosos do moribundo que nunca vi. Às 10 eu começo, sem hora de parar. O banho é quente e o café constante. Os doces, muitos. Também muitos os cheiros e barulhos de Lisboa. A fumaça do cigarro me irrita, muito, e eles fumam o dia todo. Nuns segundos dá tristeza, numas horas dá saudade e nesses tempos eu encho a alma de coisa boa: música criola, amigos de ontem, um samba pra lembrar do que é meu, rosas pra colorir a janela que vê o Tejo. Fado dá dor de cotovelo, dói até no coração que não sofre. De vez em quando dá vazio, quando não, só plenitude – paisagens novas, novos lugares, olhares, novo velho mundo que se renova. Novos movimentos me encantam: as danças negras que rolam por cá, as línguas que se misturam com as misturas do mar, os calouros vestidos em capas pretas a cantar pelas ruas da cidade. Ao contrário das apostas, não arrumei um português, nem gajo de terra alguma. Tenho visto muita gente bonita e gente feia também. Tenho visto muita gente de todo tipo. Não como direito, ando mais que as pernas, danço em castelos, leio no metrô. Uns marinheiros passam pela rua, umas senhoras estendem roupa no varal fora da janela. Minha coluna dói, meu dedo do pé melhora, os livros começam a se multiplicar na estante. Vou seguindo um bocadinho cansada, mas bem, bem feliz de estar bem por aqui. 

(Foto tirada no Castelo de Monsaraz)