sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Céu de Minas

Fim de festa, o sol deslizando por trás das montanhas. A bateria descarregou, a máquina cansada de trabalhar. Olhei para o brilho laranja e pedi: só uma, só esse céu!... e pronto.
Tambores, danças, orações. O céu de Minas se transborda sobre os negros do Rosário.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A vida que nunca chega

É uma constante infelicidade

Viver esperando o melhor

Como se o agora nunca fosse suficiente

Como se hoje não fosse o bastante

Como se amanhã tudo fosse mudar.

Viver desse jeito-

Na luta de quem nasceu sem sobrenome ou fortuna pra herdar

Quem tem que comer só pra enganar a fome

Vida de quem ganha pra pagar-

Viver assim pode não ser justo

É cruel como oferecer doce a uma criança

e depois dar-lhe as costas.

Mas se é assim... nem tanto se conformar

Nem tanto esperar

Porque ficar sonhando com o riso, chorando,

Não é sorrir.

Sonhar com o abraço, de braços cruzados,

Não é abraçar.

Plantar um jardim nos planos, durante as propagandas da tv,

Não é cultivar flores.

Esperar que a vida aconteça

Não é viver.

Triste espera, eterna esperança, puras crenças.

Querer que a chuva acabe e tudo se resolva

Esperar o próximo trem ou próxima estação

Esperar estar pronto para se ter a casa e o jardim.

Vontade de ser logo o que o tempo o tornará...

Essa espera cansa, como se a dor não tivesse cura

Como se o pão não alimentasse

Como se a vida nunca chegasse...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A cor do dia


Hoje acordei mais colorida que ontem. Não menos triste, dessa tristeza que vai e vem com os dias longe de muitos que amo. Não menos preocupada com as horas que correm mais que minhas pernas podem alcançar; não menos atrasada; não menos inquieta. Mas com um pouco mais de cor nos olhos, retinas afoitas para ver acontecer tantas coisas. Escrevi, li, comi, amanheci, entardeci. Agora estou anoitecendo com as estrelas que brigam por um espaço entre as nuvens pesadas que passeiam pelo céu. Anoiteço e tento me lembrar o que me fez diferente hoje. Talvez pela iniciativa tão protelada de escrever algumas coisas. Ou pela disposição maior de amar e me doar mais do que tenho feito - não pela minha vontade, ou falta dela, mas por não saber fazê-lo como esperam. Disposição que vi ir embora ao longo do dia, depois de alguma correria boba pra deixar tudo em ordem.
Permaneci calada esperando entender o por quê de alguma tonalidade a mais. Bom, permaneceria calada de qualquer forma, antes por não ter com quem falar do que por não ter o que dizer. E a noite foi entrando pela minha garganta, tingindo de escuro a cor que amanheceu em mim. Contento-me comigo mesma, do jeito que era ontem, do jeito que sou todos os dias, apesar das sutis mudanças de humor. Contento-me em me fazer companhia e desfrutar das minhas ideias engraçadas, outras ridículas, mas são minhas e pronto. Deixo-me anoitecer, deixo-me sem saber qual era o tom que tingiu esta manhã. Não é nada importante saber. Fato é que deixar essa cor existir em mim hoje me fez um tantinho assim mais harmônica, mas firme e com um pingo a mais de convicção. Amanhã acordo mais azul, lilás, quem sabe avermelhada. Mas amanhã ainda não é cor. Fico com meu escuro anoitecer.