sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A cor do dia


Hoje acordei mais colorida que ontem. Não menos triste, dessa tristeza que vai e vem com os dias longe de muitos que amo. Não menos preocupada com as horas que correm mais que minhas pernas podem alcançar; não menos atrasada; não menos inquieta. Mas com um pouco mais de cor nos olhos, retinas afoitas para ver acontecer tantas coisas. Escrevi, li, comi, amanheci, entardeci. Agora estou anoitecendo com as estrelas que brigam por um espaço entre as nuvens pesadas que passeiam pelo céu. Anoiteço e tento me lembrar o que me fez diferente hoje. Talvez pela iniciativa tão protelada de escrever algumas coisas. Ou pela disposição maior de amar e me doar mais do que tenho feito - não pela minha vontade, ou falta dela, mas por não saber fazê-lo como esperam. Disposição que vi ir embora ao longo do dia, depois de alguma correria boba pra deixar tudo em ordem.
Permaneci calada esperando entender o por quê de alguma tonalidade a mais. Bom, permaneceria calada de qualquer forma, antes por não ter com quem falar do que por não ter o que dizer. E a noite foi entrando pela minha garganta, tingindo de escuro a cor que amanheceu em mim. Contento-me comigo mesma, do jeito que era ontem, do jeito que sou todos os dias, apesar das sutis mudanças de humor. Contento-me em me fazer companhia e desfrutar das minhas ideias engraçadas, outras ridículas, mas são minhas e pronto. Deixo-me anoitecer, deixo-me sem saber qual era o tom que tingiu esta manhã. Não é nada importante saber. Fato é que deixar essa cor existir em mim hoje me fez um tantinho assim mais harmônica, mas firme e com um pingo a mais de convicção. Amanhã acordo mais azul, lilás, quem sabe avermelhada. Mas amanhã ainda não é cor. Fico com meu escuro anoitecer.

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