segunda-feira, 28 de junho de 2010

Alegria de Segunda


Nem toda segunda-feira tem tão gosto de feriado, nem todo começo de dia tem tanta cor espalhada pelas calçadas, tantos gritos e sorrisos nas janelas e nas esquinas verde-amareladas. Dia feliz, como deveriam ser todos os dias. Não porque é Copa do Mundo e a cidade está em festa, nem porque ninguém trabalhou no fim da tarde e os donos dos bares dormirão sorrindo esta noite. Tampouco por causa do sol e do céu azul- enevoado que embeleza o fim das horas de um dia 28 qualquer.

Um dia, sim, feliz. Só porque uma canção há tempos calada voltou a tocar no ouvido, e posso escutá-la mesmo no meio dos ensurdecedores toques de corneta. Feliz porque a leveza de acordar e ficar de olhos abertos até o despertador tocar já não era coisa que acontecia. Também porque um esboço de descanso se apresenta para uma semana próxima, e já é possível sonhar com um pedacinho de tarde em silêncio, à toa, de frente pro mar ou em companhia de alguém que me conte algumas bobagens e traga um sorriso macio e sincero. Feliz, porque assim o escolhi, o dia de hoje. Como escolhi o vestido de flores e os cabelos soltos, decidi pela felicidade toda que este inverno poderia me oferecer. Foi só fechar os olhos (abrindo os de dentro) e aceitar.

Pequenas alegrias e nada de dor. Um dia simples, bem suave, diferente dos outros. E agora ele se vai, com o avançar da lua no meio do céu. Com ela caminho lentamente em direção ao dia seguinte, esperando passar o filme dos sonhos que poderão trazer de volta alguma imagem perdida, alguma lembrança de paz, algum desejo escondido ou outra história qualquer. Amanhã é terça. Só posso esperar que ela seja outro dia de calma, afeto e poesia.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Resposta a Nayara

Para os meus alunos, essas criaturinhas tão sedentas de vida que me fazem tão feliz


Ela tem quinze anos e me perguntou o que é viver. Assim, na cara, como quem diz qualquer coisa sem importância, qualquer coisa que traria uma resposta rápida e certeira. Mas não, não foi rápido. De seus olhos escorriam a ansiedade e o desespero de quem quer logo ser feliz, de quem não sabe muito bem para onde está indo e, por isso, decide parar no meio do caminho e pensar antes de prosseguir. Junto a ela, tantos outros aflitos que só querem viver. Aliás, tentam descobrir o que é este verbo, como conjugá-lo como coordenar o tempo e o sujeito à ação tão ambígua e urgente. O que é viver? A frase foi dita assim, com essa interrogação de todo tamanho pulsando no círculo, no meio do palco daquele teatro escuro e sem beleza alguma.

E daí, cara menina, o que posso dizer é que existem tantas e tão densas respostas, tantas leves palavras, que eu seria incapaz de dizer, em poucos minutos, a dimensão do verbo que nos inquieta. Poderia lhe dizer que viver é isso que fazemos desde o instante do nosso nascimento até a última respiração. Diria que viver é biológico – respirar, comer, reproduzir, morrer – como acreditam os que vivem de ciência. Diria também que viver é estar aí, solto no mundo, como planta que cresce em qualquer lugar e apenas é. A planta é e ponto. Fica ali, à espera da chuva, do vento e do sol, até que um dia um pé a destrua ou uma mão lhe arranque a raiz.

Menina, vendo o brilho que tem no olhar que questiona, eu queria poder lhe responder que viver é só estar no mundo, mais nada. Mas não é assim, todos sabem. E então, encontramos nas palavras alheias, nos olhares estranhos e nas vidas que cruzam nossos destinos, aquilo que tanto tentamos compreender. Poderia, assim, descobrir que viver é aquilo que faz uma avó que trabalha muito todos os dias para ganhar um mísero trocado que gastará com o pão de seu neto, que já não tem nem pai nem mãe; viver é aquilo que costumam fazer os aposentados que passam as tardes jogando damas nos bancos das praças; também é o que dizem fazer os homens ricos que andam de iate e bebem uísque nas festas caras que promovem, só para mostrar que podem gastar o quanto de dinheiro quiserem. Talvez viver seja aquilo que faz o mendigo que vive na minha rua e toca uma flauta às 7 da noite, enquanto as pessoas correm sem saber para onde estão indo. Pode ser, quem sabe, que viver seja tão simples como pregam os monges que se vestem de laranja e rezam 20 horas por dia. Aliás, há quem diga que viver é fazer uma passagem neste plano, em busca de evoluções e prêmios que nos levarão a um plano superior, onde o ser humano conseguirá se livrar completamente de seu aspecto material. Há os que dizem que viver é uma aventura, que cada dia é uma luta, que é um desafio e que devemos estar sempre prontos para a batalha.

E então você quer saber se, realmente, viver é ser feliz. Mais uma vez, digo que não há resposta que lhe caiba tão justamente, além daquela que seu próprio coração tem para lhe dar. Mas sei que não ouvirá tal resposta tão cedo, porque há muitos sons e muitas vozes lhe dizendo o que fazer e o que não fazer, e assim, menina, você não vai conseguir viver nunca. Porque isso não é viver, digo com alguma certeza de quem já aprendeu o que não ser. Deixar seus sonhos para seguir sonhos alheios, dizer sim àquilo que lhe causa dor, ignorar suas vontades... Ah, isso não é viver! Não o é simplesmente porque isso é deixar escapar entre as gotas do tempo o frescor da sua juventude; é calar sua alegria para dançar ao som de uma música que não é a sua. Sim, eu sei e concordo – viver traz sofrimentos. E muitos! Tantos que às vezes a gente é capaz de acreditar que não vai dar conta de tanto peso, acha que não consegue puxar a corda até o fim e pensa em desistir antes que toque o sinal. Acontece que, e nisso eu acredito, sofrer também é viver. Quer dizer, para viver, sofremos algumas vezes, sentimos dor, de barriga, de cabeça, na alma, no coração. Sentimos fome de carinho, fome de amor, fome de comida na hora certa. Sentimos tristezas, choramos de saudade das pessoas que estão longe, pessoas que nos deixaram, pessoas que amamos. Sentimos também raiva de um monte de coisas e um bando de gente que faz besteira pela vida. Sentimos uma porção de outros sentimentos ruins que nos trazem gastrites, enxaquecas, depressão, falta de ar. Mas, acredite, isso também é viver. É sinal de que estamos vivos e, portanto, sinal de que algo está em movimento e não podemos parar no meio da estrada.

Há tanta coisa que queria lhe dizer só para que você sentisse a leveza de estar viva... Queria muito que as lágrimas que dançam no seu rosto agora, fossem a sua alegria explodindo na alma e brilhando para quem pudesse ver. E queria, mais que tudo, que você acreditasse que está vivendo. Só isso. E que não deixasse mais nem um segundo sequer escapar dos seus dedos sem que algo de bom lhe animasse o espírito e despertasse a vontade de ser mais e mais a cada dia. Queria, pelo menos, que aprendesse a encarar tudo isso, não como uma dor, mas como parte do ser perfeito que você é, mesmo com seus medos, suas dores e suas tristezas. Mas, perfeito, principalmente, porque carrega sonhos, alegrias, força e luz.

E então, eu só digo: eu não sei. Eu não sei o que é viver. E não saber também faz parte. Só que mesmo não sabendo, não vamos deixar de tentar descobrir, a cada dia, o que é que nos faz tão feliz, já que esperamos que a vida nos traga felicidade. E espero que você a encontre logo, antes que o tempo se acabe, antes de ficar tudo cinza demais. Espero que você encontre a sua felicidade hoje, antes do almoço ou depois do jantar, tomando banho, cantando em frente ao espelho, abraçando seu melhor amigo, desenhando o ar com seus saltos de ginasta, estudando geografia e química e descobrindo em cada um desses momentos algo de bom. E espero um dia ver brilhar no seu sorriso a certeza de que tudo isso tem valido a pena, não porque foi fácil, mas por tudo que você aprendeu, pelas pessoas que encontrou pelo caminho e pelas pequenas alegrias derramadas no longo percurso daquilo que você um dia chamará de sua vida.

terça-feira, 8 de junho de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Silêncio de fim de semana

Hoje é segunda. Ontem, domingo, foi fim de um feriado. Um outro começo. Pouco falei, muito fiz nos dias que seriam de descanso. Descansei o corpo e o espírito. Descansei de algumas dores nas costas e na alma. Mantive o silêncio, tão fiel companheiro que nunca me deixa só. Com ele, versos e música, muita música, sempre, a todo instante, para dançar, para cantar, para pular de alegria. O melhor dos remédios, a melhor parceira para fins de semana de solidão. Verso, melodia, ritmo. Qual prefiro? A que dá vontade de dançar, a que dá vontade de chorar e a que dá vontade de ser feliz pra sempre.

A voz de Milton dispensa qualquer comentário