quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Enquanto esperava a tarde, via a felicidade pela janela, chegando devagar com malas pesadas e lenço no pescoço. Sorria de leve, como fazia sempre, sem esforço algum no lábio inferior. Era sempre a alegria. Só que nesses dias havia ainda uma tristeza contida, guardada, que ninguém via. Só os próprios olhos diante do espelho eram capazes de reconhecer uma pequena ruga de lamento. Pequena. Tão pequena que se esquecia dela por quase todo o dia. Só se lembrava quando, inevitavelmente, se esbarrava na mesa da sala. A mesa lembrava. Também a cama, o sofá e a orquídea sobre o móvel branco. Nem sempre que se lembrava se entristecia, mas sempre que se entristecia, se lembrava. Não era nem dor, era um incômodo. Como cisco no olho, parecia que tinha um grão de areia entre o músculo e a veia. Bem no peito. Era areia e incomodava. Não por ter sido ruim, mas por não ter sido mais. Areia fora da praia, fora do lugar, amor fora de hora. Passava a mão na testa, apertava a fronte, sorria leve. E a felicidade perto, a apertar o botão do elevador.

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