O estado de não estar às vezes me
parece interessante. Às vezes acho que não. Mas é.
Estar com sua vida toda dentro de
malas e caixas, escolhendo o próximo destino, a próxima morada, calculando
quilômetros e aluguéis, vontades e necessidades, sonhos e realidade. A verdade
que me dói é mesmo essa precisão de estar aqui, nesse mundo de coisas e contas
bancárias, onde é preciso preocupar-se mais com o tamanho do salário no começo
do mês do que com os banhos de cachoeira que preciso tomar para ser feliz.
Precisar pensar o melhor caminho, contar as vantagens e desvantagens de viver
onde se escolhe – a casa com jardim perto do mar que ainda é ilusão – é uma
necessidade que desumaniza a luz e a sede de alegria e leveza que pulsa no
peito.
Estar não estando em lugar nenhum é
bom para testar o nível de paciência, consigo e com os outros, e principalmente
para se olhar nos olhos e perguntar, sinceramente: o que você quer? O que eu
quero? O que você, que sou eu, quer de verdade?E com essa, outras perguntas vão
surgindo e traçando um mapa-múndi com interrogações e possíveis respostas
corretas. Se é que existem respostas corretas. Se é que existem respostas...
Estar não estando em lugar nenhum é ter
que encarar este não-lugar como tudo que se tem de fato. É aprender, na marra,
que moramos no mundo e isso basta. Ok, eu tenho essas malas, esses livros e é
tudo. Para onde? Para quê?
E mais: é aceitar não se identificar
com nada – música, roupa, penteado, comida – nada combina, nada está bom, nada
se ajusta. Tudo está fora do lugar. As memórias, as vivências e a imaginação se
misturam, o tempo se confunde com ele mesmo e você se perde entre o que foi
passado e o que será no futuro, já que o presente é um vazio sem igual. O que
será lembrado e o que será esquecido? O que segue na bolsa e o que pesa demais
para ser levado? São essas as escolhas e depois delas, o caminhar eterno de
quem só tem a certeza de que a felicidade está de portas abertas na próxima
paragem. Seja ela onde for.
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