segunda-feira, 11 de março de 2013

Crise geográfica



O estado de não estar às vezes me parece interessante. Às vezes acho que não. Mas é.

Estar com sua vida toda dentro de malas e caixas, escolhendo o próximo destino, a próxima morada, calculando quilômetros e aluguéis, vontades e necessidades, sonhos e realidade. A verdade que me dói é mesmo essa precisão de estar aqui, nesse mundo de coisas e contas bancárias, onde é preciso preocupar-se mais com o tamanho do salário no começo do mês do que com os banhos de cachoeira que preciso tomar para ser feliz. Precisar pensar o melhor caminho, contar as vantagens e desvantagens de viver onde se escolhe – a casa com jardim perto do mar que ainda é ilusão – é uma necessidade que desumaniza a luz e a sede de alegria e leveza que pulsa no peito.

Estar não estando em lugar nenhum é bom para testar o nível de paciência, consigo e com os outros, e principalmente para se olhar nos olhos e perguntar, sinceramente: o que você quer? O que eu quero? O que você, que sou eu, quer de verdade?E com essa, outras perguntas vão surgindo e traçando um mapa-múndi com interrogações e possíveis respostas corretas. Se é que existem respostas corretas. Se é que existem respostas...

Estar não estando em lugar nenhum é ter que encarar este não-lugar como tudo que se tem de fato. É aprender, na marra, que moramos no mundo e isso basta. Ok, eu tenho essas malas, esses livros e é tudo. Para onde? Para quê?

E mais: é aceitar não se identificar com nada – música, roupa, penteado, comida – nada combina, nada está bom, nada se ajusta. Tudo está fora do lugar. As memórias, as vivências e a imaginação se misturam, o tempo se confunde com ele mesmo e você se perde entre o que foi passado e o que será no futuro, já que o presente é um vazio sem igual. O que será lembrado e o que será esquecido? O que segue na bolsa e o que pesa demais para ser levado? São essas as escolhas e depois delas, o caminhar eterno de quem só tem a certeza de que a felicidade está de portas abertas na próxima paragem. Seja ela onde for.



Nenhum comentário:

Postar um comentário