Cintila o
céu de lua cheia
Clareia o
mar ao infinito, onde os olhos cansados descansam lágrimas
Divide o
tempo o ir e o vir, o ser e o não ser, o que foi e o que é
Permeia a
vida inteira esse gosto de saudade, essa tristeza mansa, esse querer guardado
que seca
Passear as
ideias no passado é brincadeira antes de dormir
Até que o
sono chegue
Até que o
sonho alegre
Até que a noite acabe
Inicia o dia
um outro modo de estar, outra coragem, outra memória
Outro dilema
entre o lembrar e o esquecer, lembrar e viver
Estica sobre
as costas esse peso de tantas vidas
O peso de
todas as histórias, todos os caminhos, tantos descaminhos
Irrita a
falta de fome
Irrita o
amor sem nome
Imita o
espelho o rosto disforme
Acorda a
pétala orvalhada
Boceja o
canário sem árvore
Murmura a
gota sem rio
Respinga a
chama sem brio
Esfria o
café sem xícara
Estraga o
pão sem boca
Enruga a mão
sem afeto
Descama a
pele sem beijo
Descasca a
unha sem vida
Peleja o
grão sem amor
Cerceia o
tempo a vontade
Morre o
jardim ao tempo de desfolhar as verdades
Cada passo
dado é a morte que se enlaça um pouco mais
É um salto
frente à liberdade
É o fundo
dos olhos dos meus filhos a pingar a vida nos frutos que virão
Mareia o
corpo no balanço dos silêncios
Calam as
tremidas vozes incertas de si mesmas
Calam os
vazios profundos que ensaiam despedidas
Calam as
gargantas roucas de pedir em vão
Relaxa o
vento em meus ouvidos
Floresce o
verso em meus cabelos
Cantarolam
as notas nos meus dedos
Deságuam
segredos em meus cílios
Morrem
caminhos em meus ossos
Que se
petrificam
Pedras que
ficam
Pedras que
caminham lado a lado
Pedras que
um dia serão pó
Quando eu
não for mais
Nada mais
que poeira de fim de estrada
Eu poeira eu
caminho eu nada eu pó
Cada deus
por si e só.
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