quinta-feira, 23 de maio de 2013


Cintila o céu de lua cheia
Clareia o mar ao infinito, onde os olhos cansados descansam lágrimas
Divide o tempo o ir e o vir, o ser e o não ser, o que foi e o que é
Permeia a vida inteira esse gosto de saudade, essa tristeza mansa, esse querer guardado que seca
Passear as ideias no passado é brincadeira antes de dormir
Até que o sono chegue
Até que o sonho alegre
Até que a  noite acabe
Inicia o dia um outro modo de estar, outra coragem, outra memória
Outro dilema entre o lembrar e o esquecer, lembrar e viver
Estica sobre as costas esse peso de tantas vidas
O peso de todas as histórias, todos os caminhos, tantos descaminhos

Irrita a falta de fome
Irrita o amor sem nome
Imita o espelho o rosto disforme

Acorda a pétala orvalhada
Boceja o canário sem árvore
Murmura a gota sem rio
Respinga a chama sem brio
Esfria o café sem xícara
Estraga o pão sem boca
Enruga a mão sem afeto
Descama a pele sem beijo
Descasca a unha sem vida
Peleja o grão sem amor

Cerceia o tempo a vontade
Morre o jardim ao tempo de desfolhar as verdades
Cada passo dado é a morte que se enlaça um pouco mais
É um salto frente à liberdade
É o fundo dos olhos dos meus filhos a pingar a vida nos frutos que virão
Mareia o corpo no balanço dos silêncios
Calam as tremidas vozes incertas de si mesmas
Calam os vazios profundos que ensaiam despedidas
Calam as gargantas roucas de pedir em vão

Relaxa o vento em meus ouvidos
Floresce o verso em meus cabelos
Cantarolam as notas nos meus dedos
Deságuam segredos em meus cílios
Morrem caminhos em meus ossos
Que se petrificam
Pedras que ficam
Pedras que caminham lado a lado
Pedras que um dia serão pó
Quando eu não for mais
Nada mais que poeira de fim de estrada
Eu poeira eu caminho eu nada eu pó
Cada deus por si e só.

Nenhum comentário:

Postar um comentário