terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Para alegrar a alma

Tenho estado triste ultimamente, coisa que não combina muito com os tons que escolhi para mim. Tempos difíceis, diriam, tempos difíceis... Mas nunca me acostumei com dias assim. Jamais concordei com a falta de sorrisos ao longo do dia, nem com a nebulosidade do olhar afoito atrás de uma alegriazinha qualquer. Na verdade, não combino com essas tristezas grandes, pesadas, que a vida insiste em trazer com o passar das horas. E tento não me acostumar, tento não acreditar que o céu seja cinza assim, pois afinal, ele não é. O céu é azul, pelo menos assim nos chega aos olhos. Uma nuvem aqui, outra ali, que desabam nas tardes quentes, molhando as costas doloridas, ossos feridos por uma tendinite, uma pancada leve, uma postura errada. Mas as nuvens passam. As minhas têm se demorado por aqui.

E pensando nisso, busco enganar a tal companhia traiçoeira com coisas leves que fazem minha alma sorrir. Coisas simples (sim, sou devota delas!) que têm servido de amuletos para que eu recupere as forças escassas dos meus braços. Minhas pequenas alegrias. Meus sorrisos de solidão. Eis algumas delas:


Correr no Parque do Flamengo – Como diz minha amiga, ali abre-se um portal. Pura verdade. Nada descreve o singelo encontro com a natureza, mato e mar. Uma viagem.


Tomar sorvete - Ai, eu me acabo. Não adianta, não consigo me livrar do paladar infantil e, sinceramente, nem quero. E agora descobri um de pistache, baratinho e delicioso! Um sonho.


Ouvir salsa - Infalível! Não há bode que resista ao som do bongô e uns passinhos ensaiados pelo corredor. E nas últimas semanas tenho escutado o cd “Rythms del mundo”, um projeto lindo que une os músicos do Buena Vista Social Club e diversos outros cantores. Uma delícia.


Ler coisa boa - Essa semana reli “As almas da gente negra”, de W. E. B. Dubois. É triste, mas fundamental. Poesia, sensibilidade, ideias necessárias. Uma pérola.


Sambar - Ah, claro, não poderia faltar. Outra tática infalível, que depois que o Rio de Janeiro me ganhou de vez, virou mania, necessidade básica. E super eficiente pra espantar as angústias dos fins de semana de solidão. Um desabafo.


Imaginar - Tá, nada original. Mas tenho que admitir que fechar os olhos e sonhar acordado ainda é a forma mais genial que inventaram para curar as dorzinhas do dia-a-dia. E é de graça. Um barato.


Abraçar - Não dá pra sair agarrando todo mundo que se vê, mas um abraço bem dado em um amigo, um colega, alguém a quem se queira bem é um remédio e tanto. Um conforto.


Cheiro bom - Também não dá pra ficar pondo o nariz em qualquer lugar (menos ainda em qualquer pescoço perfumado), mas sentir aquele cheirinho bom, seja de um creme novo ou alguém que passa por perto com ar de banho tomado, ou até mesmo o cheiro de roupa limpa, cheirinho de amaciante... ah, eu gosto. Uma gostosura.


Bom, tem algumas outras coisinhas, mas hoje fica por aqui. Pensei até em fazer mais listas como essa, servem ao menos para me lembrar quanta coisa boa existe aqui por perto, ao meu alcance, e às vezes me perco delas por me entregar demais aos percalços e desenganos que me tiram o sono. Tentarei lembrar mais vezes e fazer mais vezes feliz essa tão jovem alma, que se entristece ao cair da noite e se esquece quão bela é a lua.

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