quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

DIA CINZA


O céu amanheceu azul, com o mesmo azul radiante dos últimos cinco dias. Dias de festa, de calor, de música e corpos dançantes pipocando por aqui e ali. Cores, muitas cores, na avenida, nas ruas, no céu, nos jardins pisoteados, nas fantasias reveladoras, nos olhos foliões. E lá se foi o carnaval, deixando rastros em alguns corações, marcas em alguns pés e sujeiras e algumas ruas. E hoje é dia de cinzas.

Amanheci tranqüila, nem cansada, nem triste, nem desbotada. Nem tão cinza quanto as cinzas nas testas dos cristãos, nem tão azul quanto o firmamento cintilante sobre o mar. Nem tão pouco com saudade do feriado, nem um pesar sequer. Amanhecer sozinho, como amanhecem os alerquins e as colombinas depois do baile, como os travestis bonitos que se enfeitaram mais que o costume, como os garis presos nas vassouras na madrugada. Tomei um banho gelado. De repente, fez-se um enorme silêncio em torno de mim. E eu gostei. Envolvida no som dessa ausência, não da solidão, mas do estar assim, sem ninguém por perto depois de passar dias entre tanta multidão, senti um prazer como o de voltar de uma viagem, como se estivesse fora de casa há tempo, quase uma saudade de mim.

Dia de cinzas - lá fora o mundo descansa, desabado em camas e sofás. Aqui dentro, uma alegria, leve, serena. Ainda bem que o carnaval acaba.

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