Meu jardim é cheio de coisas: flores, folhas, bichos, terra, pedaços de madeira. Tem muitas cores. E muitos olhares. Daqui eu vejo a vida amanhecer azul ou entardecer laranja. Vejo sorrisos amarelos, abraços verdes, carinhos cor de sangue. E vejo a lua. Daqui eu vejo quase tudo, com a lente da cor da flor que eu escolho a cada dia. Aqui, minha vida é mais do jeito que eu quero, leve, bela, pingando amor com o orvalho das frescas manhãs. Como é doce, como é gostosa a vida, olhando daqui.
sábado, 31 de julho de 2010
Desencontros
quinta-feira, 29 de julho de 2010
29
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Sem perder a delicadeza
Não é de hoje. Acredito até que sempre foi assim. Mas não entendo e não aceito certas formas como se tratam as pessoas. Muito me admira alguns modos, algumas palavras, olhares e gestos. Com ou sem motivo, as pessoas se destratam. Diria que isso é feio, mas é pior que isso. É simplesmente desnecessário. Já havia pensado sobre isso, já havia me indignado muitas vezes (pra falar a verdade, todos os dias vejo maus exemplos); mas a letra me veio com uma música – sim, sempre a música na minha vida, ainda bem! – “coloque um pouco de delicadeza no que escrever e onde quer que me esqueças...”. uma melodia delicada. E pronto!, lá estava minha mente inquieta matutando sobre ser ou não delicado. E a primeira coisa: é uma palavra linda – delicadeza. Rima com tantas outras de beleza igual, de grandeza semelhante e de riqueza de sentidos. Segunda coisa: sinto muita falta. E só me dei conta do quanto é bom ter esse substantivo por perto quando me vi numa cidade “sangue quente” onde a alegria, descontração e receptividade contrastam cruelmente com a falta de tato e de cuidado com o outro. Sim, falta cuidado, no maior sentido da palavra. Cuidar, tratar, no mínimo, com carinho, praticando aquela máxima de não fazer a ninguém o que não quer que façam contigo. Definitivamente, funciona pouco, pelo que vejo. E forma-se uma bola de neve, uma corrente que se alastra por pura vingança e pirraça no pior estilo “se latir, eu mordo”. E quantas mordidas são dadas sem ao menos uma chance de se dizer bom dia...
Bom, não era bem isso que ia dizer quando comecei a deitar aqui essas letrinhas inquietas. Queria fazer algo bonito, que exaltasse os seres delicados e mostrasse um pouco de efeito positivo sobre as almas saudosas de um carinho gratuito. Isso! Delicadeza me vem como um carinho gratuito, o bom sentimento que a gente oferece a quem quer que seja, sem se preocupar se será tratado com o mesmo toque de flor. É simplesmente dar o melhor, ou pelo menos, um lado bom de si. É deixar escorrer nossos mais sinceros votos de que aquele encontro – qualquer que seja – possa deixar uma boa lembrança, um olhar verdadeiro e a certeza de que estivemos na presença de alguém que nos fez bem. Delicadeza é saber lidar com as fraquezas e dificuldades alheias com a mesma paciência com que lidamos com as nossas. É derramar um sorriso de graça, assim, dado de presente para aquele que a vida coloca em nossa direção.
Mas o que realmente tentava dizer era que é cada vez mais difícil manter-se delicado. Tudo nos leva ao contrário. Gritos, insultos, irritação, abandono, desprezo, raiva, pressa, inveja, etc, etc, etc... fazem com que percamos o tom e fiquemos mesmo mais duros e insensíveis, com tudo. Cheguei onde queria: “é preciso estar atento e forte”, para sobreviver à dureza da vida cotidiana, do mundo adulto violento e insano, sem perder a delicadeza que carregamos na essência do ser. É trabalho diário, mas que com a prática torna-se fluido e natural. E com resultados tão lindos quanto os sorrisos e abraços que recebemos de volta. Ser delicado. Apesar de tudo, apesar de todos. Não quer dizer fraqueza; ser delicado é outra coisa. Ao contrário, fortalece. Então fica a dica: viver, lutar, sofrer... sempre com delicadeza.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
Postcards from Italy
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Coisas bonitas
Ainda cedo, o azul do céu escorrendo pela minha cama, lembrando um dia de alegrias pequenas, sorrisos sinceros, ao lado do par de olhos que tanto brilhavam na despedida da lua, um som de saxofone enrolando meus tímpanos em veludo, o corpo adormece. Amolece lá dentro aquele instante de dor e saudade que queria ficar mais um dia, mais umas horas ou para sempre. Derrete-se aquela fria calmaria de solidão dos instantes calados na porta do peito, como se nenhuma sombra se atrevesse mais a insultar meu sono.
Adormeço. Em sonho – experiência real, acredito – uma dança ou algo assim, uma valsa de leve, um abraço de lado que traz o que é quente, o que alimenta, apavora e encanta. Tudo que cabia no abraço agora já não cabe mais. Ainda cedo. Cedo para braços de paz, para beijos de bom dia, para o chá das cinco, para o fim do filme, para ficar sem fazer nada, orelha jogada na barriga alheia, som de tv.
Amanheço. E ao sentir o tilintar do dia nos cílios longos aparece um fantasma, a sombra que se desmancha com o tempo, mas que existe (temo que nunca deixe de existir). São duas sombras, na verdade, e se desmancham em uma só. Música – vício eterno – café quente, espelho, roupa cheirando a esperança, novidade, gosto bom.
Entardeço. Correm as horas pela minha pele e enxáguam de cansaço o olhar delirante. Bom, este dia, como outro qualquer, sem especialidades, sem surpresa, sem soluços, quase – quase – sem saudade. Impossibilidade, reconheço. Aprendo a viver com ela a cada dia, a ausência. Fazer dela boa companhia, aquela que suporta os gritos desafinados no chuveiro, as folhas rasgadas com poesias tortas e as mensagens madrigais da madrugada.
Anoiteço. Caio junto com as estrelas nessa imensidão de negrume e cheiro de flor. Tentar ignorar as buzinas e sirenes ainda é um esforço presente. Vem-me assim, com frases bonitas e há-braços de todos os tamanhos e intensidades. Longos, assim como são longos os fios molhados que enrolo no tecido, enxugando a face desbotada e as pernas com alguma dor. Fios de lua agora, escorrendo pela cama, que me espera. Boa, esta noite. Leve por causa das canções que descobri sem querer, por causa da voz do garoto que canta como quem ama. E ela me diz sobre verdades universais, desejos de amor e erros nos olhares. Todos os dias acontecem, acontece amor todos os dias. Escondido nas pequenas coisas, essas que meus olhos nem conseguem ver sem lentes corretivas ou esse par de óculos que trazem dor de cabeça. Letra de música, “descreva pra mim sua latitude que eu tento te achar no mapa mundi”. Lembra as distâncias. E a delicadeza do momento se faz maior que tudo, maior que eu, maior que tudo que pude ser, enfim. Com o tempo, esqueço.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Anoitecendo
Ver estes olhos tão cedo, tão cheios de olheiras e tristezas, faz pensar que já é um pouco tarde para certas felicidades que ainda não tive. Também faz lembrar da voz dizendo que era preciso bater à porta e deixar aquela criança entrar de novo, ela que está ali quietinha do lado de fora, só esperando uma brecha ou uma mão que a faça escorregar para dentro, trazendo luz e alegrias, com flores e brincadeiras.
- Dar menos importância ao correr do tempo, este que zomba de nossas caras cansadas de sono e solidão... – é o que escapa dos pensamentos e cai junto com a água fria da torneira, indo pelo ralo da pia sem deixar sequer um rastro, uma esperança de que algo irá se concretizar.
Sim, estamos envelhecendo. Mas ainda é começo de tarde, a noite vai demorar a chegar e temos muitas horas para viver enquanto as estrelas não aparecem. Só que o medo da escuridão é tanta que nos vemos antecipando o acender de algumas luzes, como se isso pudesse fazer a noite mais clara, como se fôssemos capazes de nos manter iluminados quando o sol se cansar do azul do céu. - Inútil. Completamente inútil - ela diz com aquela voz suave de quem sabe anoitecer. Melhor é esquecer os relógios, aprender a contar o tempo olhando para o alto e ouvindo o sábio cantar dos passarinhos. Melhor correr na chuva e brincar de pique-pega sem pensar nos ternos desbotados que circulam pela cidade escondendo tesouros. Melhor ainda é esquecer os números que gravam nos nossos papéis e viver sem essa matemática que cansa a alma e julga nossos corações. E ainda melhor seria, esquecer que anoitece. Desfrutar o orvalho da manhã, o dançar do vento ao entardecer, o silêncio do pôr-do-sol... Dar menos importância ao tempo, este que zomba de nossas caras cansadas de sono e solidão....