Eu já passei da fase em que se jogam pedras na beira do rio. Já passei da fase de correr atrás dos pombos para vê-los voando fugindo, assustados. Já passei dessa e de outras. Já não faço mais bolinhas com chiclete e nem dou gargalhada no meio da rua com minha turma de amigos. Eu já não sou mais de sair à noite para encontrar o namorado debaixo de chuva e adorar ficar debaixo das marquises fugindo da água, desculpa para um amasso. Também não sou mais de ler revistas e fazer testes pra saber quem eu sou. Eu já sei quem eu sou. Pelo menos sei o suficiente para não mais fazer certas coisas nem suportar outras tantas que me irritam, ferem ou contrariam. Não preciso mais aceitar tudo que me falam nem tudo que querem me ensinar. Já descobri algumas das grandes verdades que nos escondem quando somos crianças e que insistem em manter longe da grande parcela da população que vê TV aos domingos. Passei também da fase dos almoços em família. Agora meus domingos são só meus, só, e faço deles o que eu quero, quando quero, se é que quero fazer alguma coisa com este domingo.
Já passei, já passei da fase de achar que tudo é bom e todo mundo é legal. Já sei que não é nada disso que a gente imagina e nem por isso me deprimo ou desacredito do mundo. Passei da fase de achar que a culpa é do mundo. Afinal, que culpa? Não acredito mais que haja mesmo culpa por alguma coisa. É só a vida, seus caminhos, suas escolhas. Nossas escolhas.
Já passei da fase de querer tudo do meu jeito. Mas continuo querendo. Só que agora, o “meu jeito” tem um peso muito maior, é feito de forças que não conheço, deuses que nunca vi. Busco o meu jeito onde, até então, não poderia ver. Só agora eu vejo, só agora eu posso, só agora nesta nova fase. Porque já passei, já passei por coisas que me criaram e me deram a forma que tenho nesse instante, essa forma que acabou de se desmanchar e deu lugar a outra, que se desfez agora e veio a outra, que se faz em mim... eu já passei da fase de ter medo do fim.
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