sábado, 7 de abril de 2012

Páscoa em família


Jorge levou um susto quando entrou no supermercado e se deparou com um teto todo colorido com ovos de chocolate. Todas as formas e tamanhos. Parou e pensou, tentou se lembrar do dia, perguntou a alguém que passava.
- Que dia é hoje?
Mal tinha acabado o verão, ele estava aliviado com o fim do carnaval, fim das viagens, bagunças, “gastação” de dinheiro, feliz em voltar para a velha e boa rotina de sempre. E viu sua tranquilidade (ainda por cima sem trema!) ir embora ao se dar conta de que dali a pouco seria Páscoa. “Ai ai ai ai ai!!! De novo!”. Pensou com seus botões. Não adiantava, os supermercados, as lojas e a tv não o deixariam esquecer mais um feriado, o melhor momento para se vender coisas, comidas, bebidas e o que mais se poderia consumir...
Chegou em casa e fez um distraído comentário com Vanda:
-Menina, você acredita que já estão em clima de Páscoa? O mercado tá parecendo um carro de escola de samba, todo cheio de alegoria, uma coisa horrorosa!
- É mesmo, querido, temos que pensar no que fazer no feriado desse ano.
- O que fazer?? Como assim “o que fazer”? Você ainda quer fazer alguma coisa depois desse carnaval na praia?
- Jorge, esqueceu que suas sobrinhas vem passar o feriado aqui em casa? Combinei com sua irmã, elas devem ficar toda a Semana Santa...
- Semana Santa com as meninas da Alice? Meus Deus, quero ver o que vai ter de santa nisso...
Saiu, enquanto a mulher guardava as compras e foi pensando como iria enrolar as sobrinhas desta vez. As garotas certamente iriam pedir aqueles malditos e caríssimos ovos de chocolate e, como eram os “tios mais legais” que elas tinham, não poderiam decepcioná-las. Mas Jorge estava realmente sem paciência, sem ânimo e sem dinheiro para mais um feriado de festa, muita gente falando ao mesmo tempo, aquele almoço com sogra, cunhados, etc., etc. e mais etc. Fazer o quê?
Na semana anterior combinou com esposa que traria menos peixe dessa vez. O preço do bacalhau tinha aumentado, o vinho também estava mais caro. Pensou em pescar uns peixinhos no rio da cidade, mas desistiu só de pensar na quantidade de lama e lixo que havia na água. Bom, deveria diminuir o tamanho da torta e da panela de peixe ensopado. Pra isso deveriam diminuir o número de pessoas no almoço.
- Tá maluco, né, Jorge? Como é que vou falar pra mamãe não convidar todo mundo? Fazemos isso há anos, esqueceu? ANOS! Não dá pra mudar a tradição da família só porque vai faltar peixe. Você tem cada ideia...
Primeiro plano descartado. As meninas chegaram e a casa numa animação que só vendo. Um dia ele chegou bufando, quando as crianças estavam na sala, e falou bem alto:
- Galera, esse ano o coelhinho da Páscoa não vem!
O filho pré-adolescente fez cara de quem não entendeu nada, as meninas fizeram cara de choro.
- Como assim não vem, tio Jorge? E os nossos ovos?
- Então, o titio conversou bastante com o coelhinho e ele falou que tá com problemas de família. A senhora coelha vai ter filhinhos e ele não pode deixar ela sozinha, não é mesmo?
- Mas quem vai trazer nossos ovos de chocolate?
- Ninguém, ora! É o que estou dizendo.
O filho deu uma gargalhada e as meninas começaram a chorar.
- Calma, meus amores, vamos pensar diferente. Afinal, Páscoa não é chocolate. Pensem no renascimento... Vocês sabiam que antigamente se presenteava com ovos de verdade pintados à mão? Podemos recuperar esse costume, o que acham?
As meninas saíram correndo, chorando, chamando pela mãe. Vanda olhava encostada na porta, com aquela cara que Jorge bem conhecia. Lá vinha bronca:
-Você enlouqueceu, meu filho? Olha o que fez com as meninas, como é que vou explicar pra sua irmã?
Sem titubear e sem se entregar ao olhar furioso de Vanda, Jorge deu um beijo na testa da esposa e disse calmamente:
- Contenção de gastos, querida. Pelo menos vai ser uma Páscoa diferente...





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