sábado, 3 de março de 2012

Sem Título


Se não fosse assim, talvez outro som embalasse os fins de tarde sem chuva
Talvez outro tom contornasse o bailado das coisas miúdas espalhadas mesa
Talvez outra cor enfeitasse o balanço das saias e dos cabelos.
Se assim não fosse, talvez eu tivesse mais sono ou mais sede
Talvez um falsete
Talvez nada disso – não disse que não.
Talvez existisse outra casa, outra barca, outro mar
Ou só um rio, um arrepio, um caminho
Talvez um desvio
Um atalho – outro modo de chegar no mesmo destino.
Se não fosse assim talvez um cansaço
Um silêncio
Outro abraço que não esse
Outro beijo que não esse
Outro sonho que não esse.
Se não fosse assim quem sabe uma tristeza eterna de pernas desencontradas
Quem sabe o açoite injusto de amores afastados
Quem sabe a solidão insonssa dos sábados inabalados.
Se não fosse assim, talvez sem sorte, sem riso, sem rima, sem saudade
Talvez até felicidade.
Mas ainda assim, se assim não fosse (feliz de quem sabe o que é)
Faltaria um pedaço
Faltaria um compasso
Faltaria saber como é – e graças!
Tão bom que seja assim.

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