sábado, 22 de junho de 2013

Como dormir em tempos de revolução


A lua se enche em frente a nossa varanda. Parece cheia. Cheia de vontade, cheia de anseios, cheia de expectativas. Não está cheia de medo, isso ela não conhece. Sai toda noite, nua e sozinha pela escuridão afora. E ainda brilha. E ninguém lhe toca.
Há coisas estranhas lá fora.
Uma rua vazia.
Um barulho enorme dentro das telas dos computadores.
Uma falação sem fim de gente apreensiva, com raiva, com medo, com esperança.
Alguma coisa está mudando e pelo sacudir das cadeiras, parece que treme o centro da Terra. Mas não. É só uma multidão saindo de casa.
É só uma multidão gritando enlouquecida e emocionada, saindo da solidão da desesperança.
Encontramos a nós mesmos. Reconhecemos que temos planos, sonhos e frustrações em comum. E como é bom não estar no barco sozinho! Vejo que agora que descobrimos que estamos todos no mesmo barco, e em alto mar, não dá mais para parar de remar.
O inverno entrou calado.
Nem ousou esfriar nossa pele de guerra.
O medo anda assustando, tentando se espalhar pelo ar com fumaça de bombas desvairadas.
Mas essa gente canta. Essa gente ginga e não pense que gingado é brincadeira. É sabedoria.
Tudo se move, dentro e fora, e é impossível dormir em paz.
Nem o canto de ninar da mãe.
Nem o chá. Nem o calmante.
Nessas terras não se dorme.
Nessas terras ninguém está bem.
Só a lua permanece serena, bonita, encantada.
Fica ali, olhando com seu olho infinito os olhos despertos dos que não dormem, mas sonham.
E que cantiga há de embalar o sono para voltarmos a dormir?
Quais sonhos levaremos para o dia de amanhã?
Eu não durmo.
Tu não dormes.
Eles dormiam.
Nós nos acordamos.
Nós os acordamos.
Vós vos acordai.

Ó, Lua, olhai por nós!



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