Aniversariar. Verbo que todo mundo faz, mas nem todo mundo
sente. Acho que passamos a sentir os aniversários quando ficamos mais velhos,
quando o dia deixa de ser de festa, bolo e velas a soprar e passam a ser dias
de memórias, planos e rugas. Uma celulite que você não conhecia. Uma linha de
expressão no contorno do sorriso. Um olhar comum no espelho pela manhã. E para
os que acreditam nos ciclos, dia de recomeçar com todas as forças.
Aniversariar é nascer de novo, lembrar do útero quentinho que
te pariu e encarar o mundo frio em que se vive agora. É ter uma nova chance – e
se dar uma nova chance – de começar outra vez, sem medo de abandonar os padrões
gastos, os pensamentos repetidos e os sentimentos mofados. Tomar fôlego, como
no nascimento, respirando pela primeira vez. Dar-se o direito de abrir os olhos
e respirar como da primeira vez. E saber que podemos fazer isso todos os anos
pode não mudar a vida, mas dá um alívio...
Hoje eu sofro de aniversário. Completo anos de vida aqui na
terra. Trinta e dois invernos renascidos, carregando este ser que habita meu
corpo há três décadas. E se aniversário é aquilo que se repete todo ano, hoje
eu quero desaniversariar. Não quero
repetir nenhuma data, nenhuminha. Não quero meu dia de ano novo igual a nenhum
outro - nem igual aos meus cinco anos, com a mesa cheia de doces, a casa cheia
de gente e eu vestida de branco com um chapéu super charmoso. Quero dias
diferentes, de cores diferentes, outro tom no céu como cenário do meu happy day.
Quero desaniversários! Quero inventar meus renascimentos,
criar meus ciclos que forem necessários, sem me repetir. Quero desfazer as idades que já tive
para aprender esta que estreia agora. Aprender a ser, e desaprender, e aprender
outra vez, de um outro lugar, com outro olhar, outro coração. Desaniversario-me
hoje e sempre. Desfaço-me dos trinta e um. Começo a viver hoje, aos trinta e
dois. E não peço presentes. Só quero estar inteira, completa, eu-presente aqui
e agora, ao lado de quem preciso estar. Novos caminhos, trinta e duas outras
possibilidades de ser e viver. E a festa que acontece agora é dentro de mim, só
eu posso desfrutá-la. Por fora, silêncio, silencio... desaniversario.
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