domingo, 20 de dezembro de 2009

Band-aids na alma



Fim de ano, fim de festa, fim de história, fim do dia. Tristezas, algumas lágrimas, alguma besteira na tv pra distrair e esquecer as dores do mundo lá fora. Infelizmente, a vida não é feita só de sorrisos. Pelo menos a gente aprende alguma coisa com as derrotas. Ou deveria aprender.
Ainda bem que existem os amigos, os jantares, os filmes, os livros de contos, presentes de quem tem algum carinho... ainda bem que a música acalma e as festas nos divertem. Ainda bem que o sol volta a nascer. São pequenos curativos, esses band-aids que tentamos colocar nas feridas que nos fazem, grandes ou pequenas, mas que doem muito por serem feitas na alma, lá onde não há escudo nem grade de ferro que proteja nossa solidão. Vida, enfim... sofrer, por enquanto. O amor já, já passa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Essa vida de cabrocha...


Dia nacional do Samba! Só o Rio Janeiro mesmo, em plena quarta-feira, uma festa como essa, nesse calor todo! E como não posso ficar de fora, afinal, fui abraçada com todos os tentáculos por essa “instituição” que constitui o samba carioca, faço aqui minhas homenagens. Mas não aos sambistas famosos, esses cujas letras serão hoje entoadas como hinos nos trens, verdadeiras preces das testas suadas dos malandros e mulatas que sambalançam ao som dos tambores.

Rendo minha gratidão ao samba que ouvi primeiro, logo pequena, lá entre os morros de Minas, onde ninguém acredita que haja tanta ginga. Pois é, meus caros, Nova Era já teve escolas de samba. Tal cidadezinha sonolenta, com cara de poesia de Drummond (aliás, pertinho de Itabira), já foi palco de belas disputas carnavalescas, regadas a confete, serpentina e lança-perfume. Três pequenas escolas apenas, e uma acirrada competição que acabou por política ou sei lá por quê. A minha, de coração e sangue: Acadêmicos do Sagrada Família, o nosso Sagradão! Ai ai ai, quanta alegria ouvir o tio gritando: Olha o Sagradão aí, gente!!! Ui ui ui! Uma festa só.

E ali eu cresci, fins de semana no bairro da Sagrada Família, e eu acreditava que a tal família sagrada era a minha, afinal, tio carnavalesco, padrinho na bateria, avô na diretoria, a vó chefe das baianas e um bando de tias sambando de passistas, pensar o quê?... E deu no que deu. Sambei por lá, sambei em BH, e agora sambo aqui. Eta lelê! E de vez em quando dá aquela saudade dos famosos carnavais novaerenses, doces lembranças de infância. E pra matar a saudade, só caindo no samba, nessa dura sina de cabrocha mineiroca-com-cara-de-baiana, alegrando a alma e o corpo com os axés do nosso povo que sabe como ninguém transformar as dores em lindas melodias, exaltando o amor, denunciando as injustiças e clamando por dias melhores. Que venha o samba, hpje e sempre, que não morra, jamais, o tal do samba!

P.S.: A foto é uma das minhas preferidas dos meus tempos de cabrocha mirim. É de um dos bailes no Automóvel Clube, para onde ia toda “montada”, produzidíssima. Dizem que ganhei vários concursos, que a tal neguinha derretia todo mundo quando se requebrava feliz. Não me lembro disso, mas faço ideia.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Para alegrar a alma

Tenho estado triste ultimamente, coisa que não combina muito com os tons que escolhi para mim. Tempos difíceis, diriam, tempos difíceis... Mas nunca me acostumei com dias assim. Jamais concordei com a falta de sorrisos ao longo do dia, nem com a nebulosidade do olhar afoito atrás de uma alegriazinha qualquer. Na verdade, não combino com essas tristezas grandes, pesadas, que a vida insiste em trazer com o passar das horas. E tento não me acostumar, tento não acreditar que o céu seja cinza assim, pois afinal, ele não é. O céu é azul, pelo menos assim nos chega aos olhos. Uma nuvem aqui, outra ali, que desabam nas tardes quentes, molhando as costas doloridas, ossos feridos por uma tendinite, uma pancada leve, uma postura errada. Mas as nuvens passam. As minhas têm se demorado por aqui.

E pensando nisso, busco enganar a tal companhia traiçoeira com coisas leves que fazem minha alma sorrir. Coisas simples (sim, sou devota delas!) que têm servido de amuletos para que eu recupere as forças escassas dos meus braços. Minhas pequenas alegrias. Meus sorrisos de solidão. Eis algumas delas:


Correr no Parque do Flamengo – Como diz minha amiga, ali abre-se um portal. Pura verdade. Nada descreve o singelo encontro com a natureza, mato e mar. Uma viagem.


Tomar sorvete - Ai, eu me acabo. Não adianta, não consigo me livrar do paladar infantil e, sinceramente, nem quero. E agora descobri um de pistache, baratinho e delicioso! Um sonho.


Ouvir salsa - Infalível! Não há bode que resista ao som do bongô e uns passinhos ensaiados pelo corredor. E nas últimas semanas tenho escutado o cd “Rythms del mundo”, um projeto lindo que une os músicos do Buena Vista Social Club e diversos outros cantores. Uma delícia.


Ler coisa boa - Essa semana reli “As almas da gente negra”, de W. E. B. Dubois. É triste, mas fundamental. Poesia, sensibilidade, ideias necessárias. Uma pérola.


Sambar - Ah, claro, não poderia faltar. Outra tática infalível, que depois que o Rio de Janeiro me ganhou de vez, virou mania, necessidade básica. E super eficiente pra espantar as angústias dos fins de semana de solidão. Um desabafo.


Imaginar - Tá, nada original. Mas tenho que admitir que fechar os olhos e sonhar acordado ainda é a forma mais genial que inventaram para curar as dorzinhas do dia-a-dia. E é de graça. Um barato.


Abraçar - Não dá pra sair agarrando todo mundo que se vê, mas um abraço bem dado em um amigo, um colega, alguém a quem se queira bem é um remédio e tanto. Um conforto.


Cheiro bom - Também não dá pra ficar pondo o nariz em qualquer lugar (menos ainda em qualquer pescoço perfumado), mas sentir aquele cheirinho bom, seja de um creme novo ou alguém que passa por perto com ar de banho tomado, ou até mesmo o cheiro de roupa limpa, cheirinho de amaciante... ah, eu gosto. Uma gostosura.


Bom, tem algumas outras coisinhas, mas hoje fica por aqui. Pensei até em fazer mais listas como essa, servem ao menos para me lembrar quanta coisa boa existe aqui por perto, ao meu alcance, e às vezes me perco delas por me entregar demais aos percalços e desenganos que me tiram o sono. Tentarei lembrar mais vezes e fazer mais vezes feliz essa tão jovem alma, que se entristece ao cair da noite e se esquece quão bela é a lua.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Céu de Minas

Fim de festa, o sol deslizando por trás das montanhas. A bateria descarregou, a máquina cansada de trabalhar. Olhei para o brilho laranja e pedi: só uma, só esse céu!... e pronto.
Tambores, danças, orações. O céu de Minas se transborda sobre os negros do Rosário.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A vida que nunca chega

É uma constante infelicidade

Viver esperando o melhor

Como se o agora nunca fosse suficiente

Como se hoje não fosse o bastante

Como se amanhã tudo fosse mudar.

Viver desse jeito-

Na luta de quem nasceu sem sobrenome ou fortuna pra herdar

Quem tem que comer só pra enganar a fome

Vida de quem ganha pra pagar-

Viver assim pode não ser justo

É cruel como oferecer doce a uma criança

e depois dar-lhe as costas.

Mas se é assim... nem tanto se conformar

Nem tanto esperar

Porque ficar sonhando com o riso, chorando,

Não é sorrir.

Sonhar com o abraço, de braços cruzados,

Não é abraçar.

Plantar um jardim nos planos, durante as propagandas da tv,

Não é cultivar flores.

Esperar que a vida aconteça

Não é viver.

Triste espera, eterna esperança, puras crenças.

Querer que a chuva acabe e tudo se resolva

Esperar o próximo trem ou próxima estação

Esperar estar pronto para se ter a casa e o jardim.

Vontade de ser logo o que o tempo o tornará...

Essa espera cansa, como se a dor não tivesse cura

Como se o pão não alimentasse

Como se a vida nunca chegasse...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A cor do dia


Hoje acordei mais colorida que ontem. Não menos triste, dessa tristeza que vai e vem com os dias longe de muitos que amo. Não menos preocupada com as horas que correm mais que minhas pernas podem alcançar; não menos atrasada; não menos inquieta. Mas com um pouco mais de cor nos olhos, retinas afoitas para ver acontecer tantas coisas. Escrevi, li, comi, amanheci, entardeci. Agora estou anoitecendo com as estrelas que brigam por um espaço entre as nuvens pesadas que passeiam pelo céu. Anoiteço e tento me lembrar o que me fez diferente hoje. Talvez pela iniciativa tão protelada de escrever algumas coisas. Ou pela disposição maior de amar e me doar mais do que tenho feito - não pela minha vontade, ou falta dela, mas por não saber fazê-lo como esperam. Disposição que vi ir embora ao longo do dia, depois de alguma correria boba pra deixar tudo em ordem.
Permaneci calada esperando entender o por quê de alguma tonalidade a mais. Bom, permaneceria calada de qualquer forma, antes por não ter com quem falar do que por não ter o que dizer. E a noite foi entrando pela minha garganta, tingindo de escuro a cor que amanheceu em mim. Contento-me comigo mesma, do jeito que era ontem, do jeito que sou todos os dias, apesar das sutis mudanças de humor. Contento-me em me fazer companhia e desfrutar das minhas ideias engraçadas, outras ridículas, mas são minhas e pronto. Deixo-me anoitecer, deixo-me sem saber qual era o tom que tingiu esta manhã. Não é nada importante saber. Fato é que deixar essa cor existir em mim hoje me fez um tantinho assim mais harmônica, mas firme e com um pingo a mais de convicção. Amanhã acordo mais azul, lilás, quem sabe avermelhada. Mas amanhã ainda não é cor. Fico com meu escuro anoitecer.