São putas. Andam pela tarde, quase bem vestidas, mulheres como as outras.
Feias. Nem velhas, nem novas. Todas putas. Não há como negar. Estão quase
cansadas. Só não se dão ao luxo de parar porque é quase hora do jantar e o
almoço ainda não chegou. Ele virá por muito pouco. Talvez a roupa nem saia do
corpo, talvez nem se atrapalhem os cabelos e o dever estará cumprido. Voltam a
caminhar.
São mulheres e certamente esperavam mais da vida. Como as outras,
sonharam um dia com a felicidade. Mas a vida, injusta como é, lhes deu a Luz.
Não sonham mais. Perderam em tantos cantos e tantas camas aquilo que toda
mulher guarda para o homem de sua vida. Sim, toda mulher guarda, no seu lugar
mais sagrado, algo para oferecer a um só, o último, mesmo que não seja único. O
gozo mais sincero, o gozo da alma, aquele que faz exalar amor por todos os
poros. Mas estas mulheres perderam este tesouro. Não por entregá-lo a alguém,
mas antes por não ter a quem entregar. Assim, deixaram ir aos poucos, um
pedacinho para cada um. Nem tão intenso que um homem pudesse perceber e adorar;
nem tão leve que não as fizessem chorar. Assim, a cada parte que se entrega
deste tesouro, um pouco de lágrima se lança do corpo, seja durante o ato, seja
diante do espelho enquanto se lava a boca e pescoço molhado.
São quase velhas, quase no fim da estrada, quase agradáveis aos olhos
sedentos de prazer. Mas há muito deixaram de ser meninas e não acreditam mais
em outra coisa que não seja “fazer o bem sem olhar a quem”. Sem olhar nos
olhos, sem beijo na boca, trabalham e garantem a vida de alguns filhos, algumas
mães enfermas, alguns namorados desempregados. Garantem o mercado, a circulação
de bens, a diversão dos homens. E ninguém lhes garante nada. Nem mesmo a vida –
ingrata–, nem mesmo deus – se existisse –, nenhum santo ou político. Não faz
diferença para ninguém, essa é a verdade. E para elas, nada mais que uma
metáfora – Luz. Mas estão quase cegas.
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