Há dias que são como uma pausa
musical. O tempo necessário entre uma nota e outra, de dentro do ritmo, espera
sem a qual tudo se descompassa e o som se esfumaça no espaço. Há meses que são
como aquelas notas rápidas, tocadas quase em desespero pelo pianista na ânsia
de ser mais rápido que a própria dor. Ser mais rápido que a própria dor. Parece
que é o que estamos tentando por séculos, usando todos os artifícios e
artimanhas que temos em mãos. Meditar antes que a ansiedade chegue; rezar antes
que o desespero apavore; falar antes que as palavras não ditas se embolem no
corpo; calar antes que a briga comece; gritar antes que nos digam o que fizemos
de errado; fugir antes que tudo fique sério demais.
Não me acostumo com os passos
errados. Gosto sim, dos contratempos. Gosto quando os pés se lançam fora do
tempo forte, marcando o intervalo, dançando no silêncio, o tempo vazio. Gosto
do tempo vazio, quando só silêncio é possível. Silêncio e espera. E quem disse
que a espera é passiva? Meu silêncio é inquieto, dançante. Contra a minha
vontade, por vezes, mas é este silêncio que se faz por hora. Tempo, tempo,
contra (com o tempo forte no a) marcando as desdanças da minha vida. Tenho a
impressão de estar na coreografia errada. Vez por outra dou uma olhadela de
lado pra ver se estou com o par certo. Mas vai saber... melhor é seguir o
compasso e deixar o ritmo da vida seguir seu fluxo. Errar também é fazer
música.
Sinto que este intervalo é mais que
uma parada antes do próximo instante. Sinto que o correr das horas deixa alguma
coisa mais leve, leva alguma coisa que não é mais parte de mim. Agora, sinto-me no contratempo,
entre o sustenido e o bemol, entre o giro e o próximo passo, no ar, em
suspensão. No mais belo e divino intervalo.
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